Um ano, cinco meses e 29 dias!
Sobre a licença-saúde do INSS. Atenção peritos do INSS, leiam sobre depressão e transtorno bipolar. Participem de grupos de apoio vejam o problema de perto. Vocês encaram uma moça bonita e pensam que eu sou uma preguiçosa. Minha segunda licença saúde durou um ano, cinco meses e 29 dias. Foi importante não ser um ano e meio, mas e daí, se fosse? Eu cheguei no trabalho e meu chefe fez uma cara de que-boas-férias-você-tirou-de-um-ano-e-meio. Com essa cara, sorrindo, ele diz: "Você ficou afastada um ano e meio, não é?" Eu retruquei: "Um ano e meio, não, um ano, cinco meses e 29 dias." Não precisava responder desse jeito, mas eu queria que ele soubesse que eu sabia exatamente onde estava, o que estava fazendo, com detalhes. Cada dia afastada é muito importante, um dia faz uma grande diferença. Ontem deitei às 20 horas porque não aguentava mais viver naquele dia imenso. O dia não acabava nunca. Dormir parece um pouco com morrer, e tem horas, eu GARANTO, que eu preciso morrer imediatamente. Quando isso acontece, tem um remédio chamado alprazolam, é um antiansiedade, eu tomo só a metade e minutos depois estou dormindo. Hoje acordei ótima, valeu à pena, "morrer" ontem. Eu a denominei de técnica de pseudosuicídio. Eu quero morrer, então eu durmo. É menos agressivo para todo mundo. Com a ajuda espiritual, durante o sono, acordo melhor. SEMPRE. Eu andei fazendo umas orações, e também meditei Nam-myoho-rengue-kyo, no budismo, e o sono me renova, mesmo que as rugas não desistam de nascer. Eu amo as minhas rugas cada uma delas porque são Eu. São sorrisos e lágrimas. Quando eu sorrio, meus olhos ficam todos amassadinhos em volta, mas eu prefiro sorrir, ainda que eu fique velha, mas tudo isso é para dizer que esses três dias que faltaram para completar um ano e meio de afastamento valeram muito e insisto em exibí-los como troféus de luta contra a depressão. Mesmo que os períodos que tenho passado trabalhando sejam menores que os períodos afastados, mesmo assim, são troféus, cada dia que chego no trabalho, cada banho que eu tomo. Hoje, não conto mais os dias em que não tomo banho. Ainda que emendem três dias sem banho, ao tomar um banho agora, eu fico limpa do mesmo jeito. Não fico mais comparando os períodos. As crises são orgânicas e cronometrar só atrapalha. Deixe o trabalho de cronometrar para a equipe médica. Se quiser chorar, chore, se não quiser tomar banho não tome. A pressão da família para sair da crise é um porre, saiba se defender. A vítima é você, e não seus pais. Boa sorte para nós todos, nós estamos precisando.
Comentários
Pode ser... Lourdes Dias.
xaxeila
Abraços!
xaxeila
Concordo plenamente que a pressão para sair da crise (como se nós pudéssemos apenas por ter vontade)feita pela família é um porre mesmo e beira, muitas vezes, à crueldade.
No entanto, acho, todos reconhecemos que a família acaba sendo uma espécie de barreira que nos impede de (se é que é possível) cair no poço de forma definitiva.
Quando estou deprimida eu passo o dia todo reunindo forças para tomar banho, eu tomo, mas saio completamente exausta, exatamente como se tivesse corrido a Maratona de São Silvestre. É como uma pilha duracell, mas só que do pólo negativo.
Eu tenho uma teoria para isso: o banho relaxa, a gente que já está em câmera lenta, carregando o peso do planeta, tendo que ainda por cima cuidar do corpo, olhando aquela água que é tão melhor que nós se esvaindo, acaba que incosncientemente a nossa vida se esvai com ela tb.
INSS, governo, o inferno, a verdade é que o mundo não está preparado para lidar com a bipolaridade enquanto problema de saúde pública. Todos falam do assunto, mas poucos de fato o conhecem. Há mais uma aura em torno do que medidas efetivas tanto para melhorar o tratamento das pessoas como proteger seus direitos.
Não acho que sejamos incapazes para o trabalho,acho que quando estamos em crise e não podemos trabalhar, assim como as pessoas que têm pneumonia tb não podem, merecemos uma licença de acordo com a gravidade e necessidade da enfermidade, a nossa, que mata.
Eu entendo você, valorizando cada dia de sua licença. Eu perdi meu último emprego por conta da doença e eu era uma excelente funcionária.
Durante um tempo me ressenti, depois achei que eles perderam foi uma p. funcionária, criativa, com duas faculdades, várias línguas e que tinha muito a oferecer.
Boa sorte a todos nós.
Vânia
Parabénss :)