Efeitos colaterais?

Viver com sono. Sem fome. Sem dor. Sem vontade de brincar com Marido. Os efeitos colaterais dos medicamentos vão destruir meu terceiro relacionamento? Marido não parece muito paciente com esses efeitos colaterais. Não tenho vontade de fazer absolutamente nada e quando bate a ansiedade - se minha ou colateral eu já não sei mais - eu começo a comer tudo o que tem pela frente e já ganhei três quilos. Ele, Marido, vive resmungando pelos cantos, não pode falar abertamente, para não detonar um surto suicida, mas eu ouço o zum-zum-zum do resmungo. Chorei muito ontem, começou quando eu li minha autobiografia, tem fatos tristíssimos narrados ali, a morte do meu primeiro bebê, por prematuridade, eu não aguentei. Depois passei um dia cinzento, apesar da presença brilhante de L., meu filho de 2 anos. Eu sei que é um fardo viver com um bipolar, mas eu já falei para Marido que ele está livre para voar, ele fica porque quer ou a porque a outra opção, ir embora, é deveras trabalhosa. Voltei para os livros de autoajuda e espiritismo, é um ciclo, o cérebro pede leituras menos intelectuais da vida, é mais "quentinho". Autor: Anthony Robbins, título: "Desperte seu gigante interior". Parte que eu li hoje: "Desfrute tomar decisões". Pode me dizer quais tipos de decisões eu tenho estrutura psicológica/financeira para arcar com? Vocês vão dizer que esse post itself é um resmungo, mas o que seria da minha dor se eu pudesse sequer resmungar? Não foi nada fácil sentir o calor do meu bebezinho prematuro ir se esfriando aos poucos e ouvir seu último choro/suspiro sem saber que aquilo era a morte!? Ninguém teve coragem de me desiludir... Eu dizia que o bebezinho estava com frio... O pai dele começou a chorar imediatamente e meu tio pedia para ele se controlar... Foi um terror... Só hoje eu sofro com isso... Eu tinha dezesseis e sequer percebi que aquilo era a morte. Até a dois anos atrás eu pensava que o bebê morrera na incubadora. Aquela era uma ilusão que me protegia da dor. O espiritismo me diz que isso é um resgate e não me sinto nada melhor com isso. O budismo me diz que me libertei de um carma, me sinto liberta, mas o que será que eu fiz para merecer esta dor? Minha mãe me diz que não existe nada disso e que poderia acontecer com qualquer pessoa, me sinto melhor. O que eu mesma penso desse acontecimento? Só choro e não consigo explicar o que um ser de dezesseis anos pode ter feito para merecer tamanho sofrimento... Estou mesmo chorando muito agora, passaram-se 22 anos e continuo sofrendo com isso, está difícil superar, esquecer, é minha filha, meu sangue, meu bebezinho. Para me consolar, posso dizer que tenho hoje mais dois bebês, fortes e saudáveis e posso até assumir, utilizando o paradigma espírita e budista, que um dos meus filhos pode ser J.. Posso dizer qualquer coisa, posso pensar que era um conjunto de células malformadas se eu quiser. Mas eu estou chorando e lamentando, é efeito colateral? É personalidade resmungona? Os dois? O que eu posso dizer/saber é que está doendo muito, mesmo depois de tanto tempo, e a leitura do diário tocou nessa ferida não cicatrizada, que sorte que hoje tem sessão de terapia! Agora estou indo tomar um calmante, não acho que é melhor eu chorar mais um pouquinho...

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