O vestíbulo

Há um terreno escorregadio entre a sanidade e o desespero com vegetações, terrenos e paisagens singulares. Qualquer um pode acordar um dia num pantano tenebroso e perder-se para sempre. Começo a sair lentamente desse pantano, mas parando para descansar pois venho alimentando sanguessugas há muito tempo. Trêmulas, minhas pernas avançam, tentando vislumbrar alguns pequenos matizes luminosos que vazam pela escura flora. Obviamente a gravidade do lugar, bem como a atmosfera, torna os meus esforços de levantar ainda mais hercúleos. Eu descobri que vivo no Umbral toda vez que avanço pelo portal do desespero. Se eu ouvir o chamado da autopiedade eu acordo ali e me sinto em casa. É por isso que me arrasto lentamente, para não ter a pele queimada na alegria do sol. Sozinha, porque essa viagem não tem guia. E eu olho, um a um, os amigos caminhando, pelo horizonte, uns mais jovens, outros nem tanto, alguns galopam leves como pumas em pradarias e outros até voam. Vou dormir e quando acordo estou um pouco mais cansada, para meu espanto. Mas este consumir-se é silencioso e ninguém mais ouve os meus gritos. Uma casca, sem miolo, oca. Parece que as pessoas podem ajudar, mas não. A solidão da jornada da gente entedia os outros, deixemos os mortos com os mortos.