Transtorno Bipolar e os amigos.

Você chega no trabalho depois de muito tempo afastada por uma fase depressiva do transtorno. Beija e abraça todo mundo e fica com aquele olhar distante. Não se lembrará de nada, afinal são dois meses de afastamento. Todo mundo está naquela pressão para terminar as tarefas, afinal, é 26/06/2009. Final de semestre. O clima está tenso. Você está bem devagar e este antagonismo te atira em uma outra dimensão psicológica. Você está bem, muito bem. Acabou de voltar para o trabalho e sabe como foi penoso conquistar este primeiro dia, afinal, teve que tomar banho. Passou por uma perícia com o INSS. O perito te olhou como se você fosse o pior fraudador do INSS, devido ao fato de as doenças mentais serem as mais fáceis de simular. Então você é um vencedor!! Aí seus amigos do trabalho te olham com pena e te tratam como se você fosse de cristal. O que você faz? O que você faria? Como se sentiria? Você abre a agenda e ela está com dois meses de páginas em branco. Um hiato na sua vida profissional. Hoje, 10 de setembro, me sinto estranha. Continuo deprimida, ora tomo banho, ora não tomo. Antes de ontem senti-me desencarnada, as pernas tremiam, tudo parecia sonho. À noite então as coisas pioram/melhoram. Pioram porque eu já nem consigo responder o que as pessoas perguntam. Olho para o vazio e fico pensando... A pessoa fica: "Moça, moça, Sheila, você está bem?" Respondo que embora não pareça está tudo bem. A insônia voltou. À noite é melhor também, porque já passou todo o dia e há sempre uma esperança de não acordar no dia seguinte. Ou acordar melhor. Os traumas acumulam-se uns aos outros. Os amigos continuam naquela de que eu sou uma fraca e blá, blá, blá. Até explicar o que são neurotransmissores, sinapses, alterações da percepção, fabulações... Deixa pra lá, dá vontade de ficar só olhando e dizendo que está tudo bem, tudo ótimo, tudo maravilhoso, mesmo que o meu olhar fique em outra dimensão. Os amigos acostumam-se e param de fazer perguntas. Os mais antigos são os que sofrem mais porque nunca tem seus aniversários lembrados, comemorados. Não sei porque vão ficando também. Semana passada eu dei um toco daqueles no meu amigo JT. Combinei com ele e a J. e deixei os dois plantados, porque esqueci. Além de esquecer, também não avisei que esqueci, perdi o endereço e telefone de onde seria o encontro e para ajudar, até hoje não liguei para me desculpar. Que bom que existem amigos de verdade que compreendem, porque às vezes penso em ser uma misantropa (uma pessoa solitária e sem amigos), estou cansada de magoar os meus amigos! Quando eu tenho ataques de ironia e sinceridade a situação fica aguda. Chamei o meu amigo do PT de "fisiologista". Chamei meu colega de bate-papo no orkut de "pernóstico". e tudo assim, na chincha. Meus amigos me perdoem por favor, eu os amo, eu juro que os amo sinceramente, nesse meu jeito esquisito de amar, não me abandonem porque eu não vou desistir de amar vocês, prometo.

Comentários

Unknown disse…
Querida amiga! Creio que depois deste apelo aos teus amigos eles não te abandonarão.
Estou com saudades de ti .
Beijos no teu coração.
Anônimo disse…
Amiga Ângela, é uma barra a que eu carrego pois não tenho efeitos físicos nesta doença, os efeitos são somente psicológicos... às vezes não quero acreditar que sou portadora desta coisa...

xaxeila
Unknown disse…
Conheço uma pessoa que eu gosto muito que não aceita que tem esta doença; fico triste por ela.
Beijos.
Xaxeila disse…
Angela, o meu pai. Ele acha que é tentação do canhoto, do demo, do inimigo.
Anônimo disse…
Parabéns pelo post. Sabe... eu fiquei 3 anos no INSS, e não consegui encarar a volta ao serviço. Acabei pedindo demissão. O motivo: preconceito dos colegas de trabalho. E assim como vc as vezes magoou as pessoas que eu amo... É triste. Mas com certeza não é por mal... continue escrevendo.
Vânia Vidal disse…
Certa vez, quando eu ainda fazia faculdade, embora eu estivesse terrivelmente deprimida, eu não faltava as aulas porque era pior ficar em casa onde eu me sentia derrotada, então eu ía, assim, sem ir. Eu ía, ficava lá, mas não estava era em lugar algum. meus amigos viam aquela situação e faziam tudo para me tirar do abismo, tudo mesmo. Me chamavam de volta, estendiam a mão, mas meus dedos escapavam... Eu nem via, claro, a gente nem vê. Quando eu melhorei um pouquinho e "voltei", eles me tratavam como você falou, Sheila, um cristal. Eu me sentia numa redoma, era tão estranho aquilo, a sensação de estar completamente dentro de mim e sem conexão com o lado de fora, como se alguém pudesse existir somente dentro e isso me era assustador.
Era constante meu pensamento vagar por todas as direções e meu olhar mergulhar na distância relvada de um passado tão imenso e longíncuo (e isso aos 22). As pessoas chamavam meu nome, falavam comigo, eu respondia, mas era só isso, não tinha conexão, significado. Era uma distância desértica, um resistir que era uma pura desistência. Eu morria de pena dos meus amigos, e isso me doía, porque de mim, de mim eu já nem sentia nada. Tentei trancar a faculdade no penúltimo período por causa disso, por não suportar ver meus amigos naquela aflição.

Muitas vezes os deixei falando sozinhos, tantas vezes ignorei aniversários, quantas e tantas vezes disse coisas que não sentia ou não queria dizer. E tantas vezes os magoei e preocupei e eles continuam aqui, os verdadeiros nunca me deixaram.

bjs
Vânia

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