Obsolescência

Engraçado, lembra quando a gente ia na casa da avó e tinha uma vitrola, gramofone, discos a vinil e a gente ria-se até? Bem feito pra nós, agora nós iremos ver o que é meeeeeeeeesmo, obsolescência. No próximo ano, ou mês, irão lançar um novo celular, uma nova mídia, um novo modelo de notebook, e até a minha filha de 18 anos tem um notebook obsoleto. Isto sim é obsolescência. Isto me faz pensar um pouco... Em como atualmente até a matéria está ficando tênue? Tudo menor e mais rápido? Mais prático, mais leve? Antigamente, ano passado, nos levantávamos, púnhamos uma calça jeans, entrávamos num ônibus, descíamos na Praça da Sé, entrávamos numa loja de discos, levávamos minutos na fila do cd player com fones para escutar e escolher o CD, ficávamos minutos na fila do caixa para pagar, e fazíamos todo o caminho de volta para casa. Agora, se eu quiser uma música posso consegui-la de graça ou comprar num sítio da internet. Sem tomar banho, sem sair de casa, sem transporte, sem fila e sem falar nem ver ninguém. Sem falar e nem ver ninguém. Sem sair de casa. Rápido. Fica um pouco sem graça. A vida acontece aqui dentro da minha alma mas também acontece lá fora, quando fazemos coisas lentas. Agora eu entendo a minha avó, que sempre dizia:"eu não vejo vantagem nenhuma nestes toca-fitas de vocês (isto mesmo, toca-fitas, lembra?), o meu gramofone toca muito melhor, não quebra e tem me acompanhado todos estes anos, o de vocês vive quebrando, o som é ruim." Afinal, o que se compara realmente ao som de uma orquestra em um teatro bem construído ou ao ar livre? Qual equipamento poderá no futuro reproduzir o som de 50 violinos, o vento e o sol no nosso rosto, sensações únicas em nossos ouvidos, momentos vividos que nunca mais se repetirão pois aquele minuto será único e não podermos guardar os minutos no bolso e nem fazer download (ainda)? Eu opto pela opinião da minha avó, o nosso é muito melhor. Viva a nossa ingênua obsolescência!!! Viva! Viva!